Quero nesse espaço, descrever meu cotidiano, minhas vivências de sala de aula e minhas emoções. Tudo o que ensino e tudo o que aprendo, minhas dúvidas e anseios e minhas realizações.
quarta-feira, 31 de julho de 2013
A TRAJETÓRIA EXPRESSIVA DA CRIANÇA, SEGUNDO MIRIAN CELESTE MARTINS
Segundo Martins (1998), o sistema educacional, as oportunidades oferecidas, os valores culturais e a predisposição genética influenciam de forma intensa nas produções, percepções e concepções artísticas da criança, sendo seu desenvolvimento expressivo organizado em quatro movimentos, cada um tendo uma significação própria. Os gestos, as tentativas, os desenhos e os movimentos rítmicos e corporais da criança pequena podem parecer ações isoladas, mas ela está em atitude de pesquisa, procurando ideias, exercitando sua ação e pensamento, manifestando-se tal exercício , através de garatujas gráficas, sonoras e corporais, provocando-lhe uma imensa satisfação.
Para ela, a teoria de Piaget coloca que as variedades de rabiscos traçados pela criança se modificam com o passar do tempo, tornando-se circulares, triangulares, irregulares, horizontais e verticais. As formas vão se tornando cada vez mais complexas e surgem as mandalas, os sois e os radiais que são a gênese das primeiras figuras humanas. Todo este jogo de exercício está presente nesse Primeiro Movimento que a criança exercita com as diversas linguagens sendo de grande importância para sua vida.
O Segundo Movimento expressivo encontra semelhanças entre vários teóricos do desenvolvimento infantil, como Piaget, e integra o movimento simbólico ao estágio pré-operatório de dois a sete anos de idade. A função simbólica é o centro de processo de ensino aprendizagem. A criança constrói seus símbolos através de suas ações e de diferentes formas de linguagem, fazendo representações por meio de objetos. No desenho, esse processo acontece lentamente, visto que dos rabiscos nascem as primeiras tentativas de desenhar e, posteriormente, da escrita. Se a escola valoriza apenas o sistema da linguagem oral e escrita, ela não irá proporcionar oportunidades para a realização de experiências importantes para a competência simbólica da criança. A arte tem um papel prioritário neste trabalho.
O Terceiro Movimento expressivo corresponde, para Piaget, ao estágio das operações concretas, apresentando avanços consideráveis na compreensão dos conceitos para crianças de 9 a 10 anos de idade. A busca pela representação mais realista leva a criança a preocupar-se com regras e organização no momento de se expressar, refletindo sobre as cores e as formas da realidade. Nesse movimento, há mais autocrítica na comparação com o real, muitas vezes, levando a criança a desistir do seu desenho. Se o ensino de artes não oferecer outras possibilidades de representação, ampliação de referências e de observação, a criança pode sentir-se desestimulada em desenhar.
A produção expressiva do Quarto Movimento acontece na adolescência. Piaget se refere a este período denominando-o de Estágio das Operações Formais, no qual há um refinamento do pensamento abstrato. O adolescente começa a explorar o pensamento sobre o mundo e das emoções, com mudanças de perspectivas na produção artístico-estética. Valorizar o repertório pessoal de cada aluno é essencial para incentivar a imaginação criadora, abrindo espaço para o mundo das artes.
Para Martins (1998), os trabalhos baseados em projetos refletem uma atitude pedagógica fundamentada numa concepção de educação que valoriza a construção do conhecimento, além de ser uma forma de planejar, ensinar e aprender artes. O projeto é uma intenção que exige uma reflexão constante e deve ser continuamente replanejado e avaliado para que os objetivos sejam alcançados. Este modo de trabalhar tem uma dinâmica própria, devendo ser adequado às diferentes realidades de cada turma, não sendo transformado como apenas um método, mas numa atitude pedagógica que envolve investigação e diferentes formas de ensinar e aprender.
A criança se apropria da arte, lendo, produzindo e vivenciando a própria produção. Desenvolve, ainda, competências simbólicas que estimulam a percepção, o pensamento e a imaginação, por meio da expressão artística, aprendendo artes de maneira significativa. A professora deve propor situações de aprendizagem, conduzindo as ações em torno do saber fazer, organizando o ambiente e diversos materiais para que a criança possa refletir sobre suas produções e a dos seus colegas em sala de aula.
Nessa semana a turminha do Maternal participou ativamente de atividades lúdicas e prazerosas.
Desenho com intervenção.
Meus pequenos tem avançado muito nas suas produções.
segunda-feira, 29 de julho de 2013
DESENHO INFANTIL - LIVRE
Algumas reflexões sobre o desenho infantil. Em minha experiência profissional e lá se vão 22 anos, posso afirmar que concordo com Freinet (1977) quando afirmou sobre os sucessos infantis dos desenhos. Realmente tal motivação faz com que os pequenos repitam o mesmo desenho por várias vezes. Interessante que proponho desenho livre diariamente e percebo que Gabrielly (4 anos) que agora desenha árvores, as repete sempre e Pyetro Emmanuel (5 anos) que aprendeu a desenhar coelhos aos quais eu chamo de “Pernudos” os repete frequentemente também, independente de qualquer outra motivação com histórias, imagens, ilustrações do Livro da Vida. Os coelhos pernudos de Pyetro E. estão sempre sendo aperfeiçoados, assim como as árvores de Gabby.
Depois surge uma semelhança, nasce o primeiro êxito, que a criança repetirá até o automatismo. Seguir-se-ão outras tentativas, obter-se-ão outros êxitos, as tentativas falhadas serão automaticamente abandonadas (FREINET, 1977, p. 23).
Outro autor que também respeito pelos seus estudos, Lowenfeld (1977) me faz crer o quanto sentem-se felizes as crianças enquanto desenham e quantas possibilidades os educadores atentos têm quando sentam-se junto delas. Ás vezes ouço pequenas histórias, músicas delas enquanto desenham. Um momento de puro prazer, sem dúvida alguma.
O desenho representa muito mais que um exercício agradável, no período infantil. É o meio pelo qual a criança desenvolve relações e concretiza alguns dos pensamentos vagos que podem ser importantes para ela. O desenho livre torna-se uma experiência de aprendizagem. (LOWENFELD, 1977, p. 159).
É importante que não coloquemos os carros na frente dos bois, ou seja, que não hajam regras para que a imaginação aliada à coordenação motora se desenvolvam e permitam os riscos, rabiscos garatujas infantis.
[...] por este processo sem regra preestabelecida, sem cópia de modelos, sem qualquer explicação exterior, a criança atinge experimentalmente o domínio do desenho” (FREINET, 1977, p. 28).
Há uma certa experiência própria que venho contextualizando através de pesquisas e ações sobre o desenho infantil: Em 2010, numa turma de crianças de 4 a 6 anos me deparei com uma garotinha já com quase seis anos que me parecia desmotivada ao desenho. Mas como assim, pensei? Sempre incentivei o desenho livre às minhas crianças, então um belo dia precisávamos da ilustração de uma galinha para um plano de trabalho e ela num primeiro momento entusiasmou-se em ser a ilustradora, mas na hora “H” disse: _”Eu não sei desenhar galinha”. Para que o seu entusiasmo não se perdesse, para que o senso de responsabilidade fosse ali cumprido, para que a solidariedade dela com a turma trouxesse sucesso ao plano de trabalho sentei-me com ela e perguntei se já tinha visto uma galinha e ela disse que sim, que conhecia galinhas. Então, peguei uma folha de papel e lápis coloridos e disse a ela que tentássemos desenhar. Sem pensar em regras e técnicas de desenho fui fazendo algumas indagações: “A galinha tem cabeça, corpo, patas”? É grande a sua cabeça, quantas patas ela tem, como é a sua boca? E outras mais, pausadamente. Pedi então que ela começasse a galinha como ela lembrava-se ao tê-la visto. E não é que a galinha “nasceu”? Nasceu também um sorriso grande no rostinho desta menina: um sorriso de satisfação, sucesso, autoestima. Freinet (1977) e Lowenfeld (1977) estão absolutamente corretos quanto ao automatismo, o sucesso fortalecido, a tarefa agradável que é o ato de desenhar e como contribui para a concretização de pensamentos e por consequência, de conhecimento e aprendizados.
Portanto, o método da expressão livre, conforme afirma Freinet (1977) não é uma simples fórmula de arte espontânea onde o educador se limita a observar e a deixar seguir. O educador precisa intervir, mediar, incentivar e assim motivar as crianças em todo aprendizado. Afinal como pedagoga o que mais me encanta é a sensação de conduzir as crianças, rumo a novos horizontes, pensamentos, aprendizados, ou seja, de dever cumprido e incessante no cotidiano escolar.
REFERÊNCIAS
FREINET, Célestin. O Método Natural II - A aprendizagem do Desenho. Lisboa, Editorial Estampa,1977.
LOWENFELD, Viktor. A criança e sua arte. São Paulo: Mestre Jou, 1977.
STACH, Karin. Conte outra vez: Contos Rítmicos. São Paulo, Editora Antroposófica, 2012.
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